By 
Ouvi esta frase pela primeira vez em um circo. Eu fazia a locução do
espetáculo, anunciando os artistas e suas entradas, apenas os palhaços
não eram anunciados, pois os mesmos faziam os intervalos entre uma
apresentação e outra dos números circenses.
Foi uma noite muito difícil para todos, recebi um bilhete dizendo que a
mãe de um dos palhaços havia falecido, estávamos em São Paulo e o
falecimento ocorreu em Belo Horizonte.
Me contive até o primeiro intervalo, que era maior por ter que colocar o
globo da morte no picadeiro.
Procurei o gerente do circo e entreguei a ele o bilhete que eu havia
recebido, e ele disse: temos que comunicar ao “Faísca” não podemos deixar
para o término da função.
Com a mesma serenidade que falou comigo, se dirigiu à barraca do
“Faísca” e contou o acontecido.
Com o choro, toda a maquiagem dele manchou, mas ele não a refez e
respondeu: “O espetáculo deve continuar”.
Com as lágrimas escorrendo pelo rosto, voltou ao picadeiro e continuou
fazendo o que fazia com maestria: fazer as pessoas sorrirem.
Recentemente, ocorreu um caso semelhante com um árbitro de futebol.
O romeno, Ovidiu Hategan tinha sob sua responsabilidade apitar o jogo
entre Alemanha e Holanda pela Liga das Nações na semana passada, quando
minutos antes do jogo recebeu a notícia do falecimento de sua mãe.
O árbitro se contendo emocionalmente e mostrando enorme força mental,
apitou o empate de 2×2 entre as duas seleções.
É de se admirar o profissionalismo desse árbitro, que em um momento tão
crucial cumpriu seu trabalho até o fim.
O momento emotivo do jogo ficou por conta da atitude do zagueiro
holandês, Van Dijk que foi cumprimentá-lo pela lisura de seu trabalho e
o abraçou enquanto Hategan chorava. “Aquele homem não aguentou, ficou
com lágrimas nos olhos porque tinha acabado de perder a mãe. Eu lhe
desejei força e disse que ele havia feito uma boa arbitragem”, disse o
zagueiro.
Creio que a atitude de Van Dijk é um exemplo que não pode ser colocado
de lado, num momento tão difícil encontrar palavras para consolar é
muito difícil. Qualquer frase que dissermos se perderá no ar, pois é um
momento muito doloroso para quem perdeu o ser mais importante da vida.
Daqui enviamos nossos sentimentos a Hategan pedindo a Deus o consolo
necessário para toda sua família.
O espetáculo continuou apesar da dor que Ovidiu sentia naquele momento.
Diz o adágio:” O coração é meu, pode sofrer o semblante e o do próximo
deve sorrir”.
Informar é um privilégio, informar corretamente uma obrigação.
Léa Campos
Comments