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Léa Campos: Difícil Sim, Impossível Não

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lea_camposEm 1967 em Belo Horizonte, dei início a uma caminhada que muitos disseram que jamais teria êxito.

Encontrei muitas pedras pelo caminho, mas consegui driblá-las e seguir em frente.

Minha meta era abrir uma nova chance de trabalho para as mulheres, contava com o apoio de meus pais que mesmo sabendo que não seria uma luta fácil, torciam para que eu alcançasse minha meta. Entretanto, minha maior dificuldade foi convencer as mulheres sobre minha pretensão de ser árbitro de futebol.

Entre os absurdos que inventavam, diziam que eu queria aparecer para encontrar um jogador rico e famoso para me casar. Tive que lutar por quatro anos contra os machões que naquela época acreditavam serem os donos do futebol no Brasil.

Com o apoio incondicional da imprensa, principalmente da Rádio Itatiaia (Belo Horizonte) e a TV Globo e especialmente de Cannor Simões Coelho, jornalista mineiro que sempre esteve pronto a me ajudar em minhas idas ao Rio de Janeiro.

Para felicidade minha, o presidente da entidade máxima do futebol naquela época, depois de uma carta do então presidente Médice, resolveu ordenar à FMF que me entregasse meu diploma, pois somente assim poderia viajar ao México para atender a um convite da FIFA para apitar no segundo campeonato mundial do futebol feminino, o que aconteceu em 1971.

Era véspera da despedida de Pelé de nossa seleção e a nata da imprensa esportiva do mundo se fazia presente no Rio de Janeiro e com o pronunciamento do presidente da CBF tornei-me o centro das atenções, dividindo espaço com nosso ídolo maior o “Rei” Pelé.

A partir daí pude viajar a vários países, levando minha bandeira com honra e orgulho e mostrando ao mundo que as mulheres são capazes de tudo que a que se propõem.

Sempre tive comigo a frustração de não ter recebido no Brasil, o reconhecimento que creio ser merecedora, pois fui pioneira na arbitragem e lutei muito pelo futebol feminino.

Fui homenageada por vários governos, mas não era isso que eu buscava, queria que a geração atual do meu país tomasse conhecimento do meu papel para a arbitragem e para o futebol feminino.

Quase 50 anos após a minha luta para criar uma nova fonte de renda para  as mulheres, sem nunca ter merecido uma menção especial pelo fato de ter sido a pioneira a nível mundial, aparece uma luz ao final do túnel.

Pois bem, esta frustração está próxima de ser eliminada e isso devo a uma gaúcha, Silvana Goellner, amante do futebol feminino que me inseriu no Visibilidade para o Futebol Feminino, que acontecerá dia 19 de maio de 2015, no Museu do Futebol em São Paulo.

Estou emocionada, pois ter meu trabalho reconhecido e homenageado num evento dessa magnitude é uma honra que me  orgulhece.

Faço um agradecimento a Daniela e Mariana, do Museu do Futebol em São Paulo por ter percebido o quão foi importante para as mulheres, não somente do Brasil, como também no mundo, numa área tão controversa como é a arbitragem no futebol masculino.

Quebrei um tabu a nível mundial, me sinto orgulhosa por isso e agora que reconhecem minha luta me sinto recompensada.

Valeu a pena tudo que passei para ser a Primeira Mulher Árbitro de Futebol Profissional no Mundo, e se fosse necessário repetira tudo com a mesma luta e o mesmo amor.

Obrigada Silvana por ter  visto em mim um aporte positivo pra o futebol feminino, e principalmente por fazer com que meu nome passe definitivamente para a história do futebol  no Brasil.


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