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Léa Campos: Visibilidade para a Mulher no Futebol

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Myrian Fortuna - lea

Já tivemos duas mulheres presidindo clubes de futebol no Brasil: uma no Flamengo e outra no Corinthians, agora surge uma mulher no Tupi de Juiz de Fora.

A diferença é que Flamengo e Corinthians possuem uma estrutura financeira que pôde manter uma mulher à frente da presidência, ainda que o trabalho não tenha rendido o que se esperava. Além das finanças, os dois clubes possuem uma gama de profissionais coadjuvantes e evidentemente um time cheio de craques, evidentemente  o Tupi não possuía estas vantagens.

O Tupi estava no grupo C do brasileirão e desde 2013 tem na sua presidência uma mulher, uma verdadeira guerreira, que apesar do preconceito contra as mulheres no futebol,  conseguiu despertar o Galo Carijó e colocou o  time na Série B.
Uma pessoa com formação de advogada, empresária, pedagoga e até nutricionista não foi suficiente para romper o machismo.
Esta mulher de grande caráter e determinação é Myrian Fortuna.
“Sinto dificuldade por ser mulher, a postura masculina impõe facilidades, ouvi isso de uma pessoa quando fui atrás de patrocínio, falaram que homem entende mais, pois entra no campo e no vestiário, domina o jogador. Diziam: “Como uma mulher vai conversar com jogador? Isso eu ouvi muito”
Apesar de tudo isso Myrian não recuou e insistiu e agora colhe os frutos de sua teimosia.
O importante para ela foi o apoio dos conselheiros que acreditaram na capacidade dela. Segundo Myrian, ” foi isso que me levou a acreditar que vamos conseguir ter uma boa administração com a diretoria e todos que estão a meu lado”, enfatizou.
Ela sempre gostou de futebol.
Sua família tinha presença marcante no Tupi, o avô foi presidente do clube nas décadas de 50 e 60, ela cresceu torcendo pelo galo juiz-forano.
O irmão também presidiu o Tupi, o que fortaleceu a paixão dela não somente pelo futebol, como também e principalmente pelo Tupi.
Seu começo no clube foi como nutricionista. “Eu abri mão de tudo para trabalhar no Tupi. Deixei de fazer as coisas que exercia para renovar muita coisa dentro do clube. Muita gente achava loucura isso, mas eu achava natural me dedicar ao máximo, quando assumo uma coisa, quero que ela flua bem, sei que também muitos acham loucura uma mulher no meio do futebol”.
Myrian conta que passou por algumas situações constrangedoras.
“Tem 10 anos que estou nisso e acredito que é um meio machista, já sofri muito preconceito, alguns diziam: o que uma mulher está fazendo aqui dentro? Mas nunca me importei com isso, sempre fiz meu trabalho. Nunca fui desrespeitada por ninguém, muito menos jogadores, comissão técnica ou dirigentes”
Ademais de quebrar padrões psicológicos, ela é alvo de curiosidade por onde passava, apenas por ser presidente mulher.
Ao enfrentar o Alecrim em Natal pela Copa Brasil, ela se transformou em ídolo dos dirigentes locais que fizeram questão de se fotografarem com ela, não sem antes fazer ênfase de que no Nordeste isso era raro. Foi quando alguém mencionou a Jurema que preside um clube amador, Myrian não perdeu a chance de conhecer a colega.
Myrian coloca o Tupi nos noticiários nacionais, não apenas por ser mulher presidindo um time de futebol profissional no interior de Minas Gerais, mas principalmente pelo respeito que conseguiu por resgatar o Tupi e colocá-lo em outro patamar.
Empresários que se negaram a patrocinar o clube, apenas por ter uma mulher na presidência, porque achavam que o time cairia.
Hoje Myrian já pensa na próxima temporada, quando tentará levar o Tupi ao grupo de elite do futebol brasileira.
Como mineira, e principalmente por ser mulher, estou certa de que ela alcançará seu objetivo, pois não conseguem o êxito quem cruza os braços.
Parabéns à Myrian por seu triunfo de agora e pelos que estão por vir.
Juiz de Fora a “Princesa de Minas” está em festas e sua principal súdita feliz pelo que conseguiu alertando que isso é só o começo.
Preconceito é a arma dos fracos e nós mulheres somos fortes.
Informar é um privilégio, informar corretamente uma obrigação.

Léa Campos


Social Press . 10/12/2015

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