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Médicos da USP pedem cuidado com supostos remédios contra covid-19

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Um grupo de professores da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), que tem conduzido uma série de pesquisas sobre o Covid 19, escreveu uma carta em apelo para que se leve a sério a ciência e os estudos clínicos que possam realmente identificar um tratamento para a doença.

“A ciência não é opinião, e consiste exatamente em estabelecer relação de causa e efeito. Muitas observações podem ser feitas sobre exames e medicamentos em relação à covid-19, mas estabelecer uma relação correta requer método científico e ética”, pontuam os membros do Colegiado dos Professores Titulares da Faculdade de Medicina da USP.

O grupo é composto por pesquisadores renomados, que estão na linha de frente das pesquisas sobre a doença, como o infectologista Esper Kallas, que lidera a comissão de crise do Hospital das Clínicas, o hematologista Vanderson Rocha, diretor presidente da Fundação Pró-Sangue, que está coordenando os trabalhos com plasma do convalescente, e o epidemiologista Paulo Lotufo. Também compõem o colegiado os professores Pedro Puech, Irene Noronha, Rosa Maria Pereira e Tarcísio Eloy Pessoa.

“A principal ferramenta se baseia nos estudos controlados. Nesses estudos, há um grupo para o qual é dado o tratamento e outro para o qual não é dado (chamado de grupo controle)”, explicam os professores.

“Para que a estatística nos dê uma probabilidade alta de um resultado corresponder à verdade, é preciso um número grande de pacientes. Quanto maior o número, maior a confiança no resultado. Por isso, esses estudos são feitos com centenas ou milhares de pacientes. Para obter número grande de casos, num estudo, a ciência tem dois métodos: realiza o estudo durante anos ou reúne vários hospitais, somando os casos.”

Os pesquisadores pontuam que esse é o desafio da pandemia atual. “Reunir vários centros para uma pesquisa rápida é difícil, pois cada centro médico do mundo está focado em tratar seus pacientes graves e achar soluções rápidas”, dizem.

É por esse motivo, ressaltam eles, que todas as pesquisas feitas até agora para candidatos a tratamento da doença foram feitos com número pequeno de casos e são de baixa confiança estatística.

“Esse instrumento de análise não dá certezas, mas apenas probabilidades. Ele nos diz se é provável que o tratamento seja eficaz ou se não é provável. E mais: nos diz se é muito provável ou pouco provável. Isso depende do número de casos, mas também do cuidado com que os grupos de pacientes foram separados”, explicam.

Mas reforçam que não há, até o momento, estudos que permitam dizer que um tratamento seja muito provavelmente eficaz. “Existem algumas pesquisas que apontam para um resultado positivo, mas com pouca probabilidade de estarem certas. Não há verdade científica sem estudos grandes e bem feitos.”

E alertam: “Os tempos são difíceis. A maioria das pesquisas foi feita com número pequeno de casos. Por isso, algumas mostram bons resultados com um medicamento e outras mostram que o mesmo é ineficaz. Muitos pesquisadores preferem divulgar pela via mais rápida, que são as redes sociais, mas esse caminho não é o correto e não permite que os demais possam conhecer detalhes da pesquisa para avaliarem se foi bem conduzida.


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