Considerada uma entidade de direito angolano, a Igreja Universal local alegou como base para suas decisões, segundo o órgão oficial, a “violação sistemática aos estatutos e direitos dos membros”, tais como “a discriminação racial e violação das normas estatutárias”; a “imposição e coação à castração ou vasectomia aos pastores”.
Também são citadas a suposta “privação aos pastores e suas respectivas esposas de acesso à formação acadêmica, científica e técnica profissional”; a suposta falsificação de atas, “abuso de confiança da direção da Igreja ao passar procurações com plenos poderes a cidadãos brasileiros para exercer atos reservados à assembleia geral” e “abuso de confiança na gestação dos recursos financeiros e patrimoniais”, entre outros pontos.
A assembleia de bispos e pastores de Angola indicou uma nova equipe de gerência e uma “Comissão de Reforma” da Igreja Universal, com o bispo angolano Valente Bezerra Luís como seu coordenador.
Bezerra Luís, de acordo com a ata, passou a ser o novo líder da igreja no país. Também foi destituído “de todos os seus poderes”, conforme a assembleia, o então presidente do conselho de direção da Universal, bispo Antonio Pedro Correia da Silva, e encerrado o serviço eclesiástico de missionários brasileiros da Universal em todo o território de Angola.
A publicação da ata no diário oficial foi bastante comemorada e interpretada por religiosos locais como a oficialização da perda do controle do bispo brasileiro Edir Macedo sobre a Universal no país.
Para Mathias Alencastro, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que acompanha a situação de Angola, o governo local está endossando os pastores angolanos e realmente oficializando a tomada dos templos.
“Acabou para a Universal. Coloca pedra e cal na estratégia da Iurd de tentar retomar seus templos. E mostra como foi inconsequente e desastrada a tentativa do Itamaraty de resgatar a Iurd. Já estamos vendo a consequência dessa submissão a interesses evangélicos”, diz Alencastro, doutor em Ciência Política pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
O próprio presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, havia tentando interceder em favor da igreja de Macedo, seu aliado e eleitor na campanha à Presidência.
Bispos e pastores angolanos decidiram, no final de junho, assumir o comando dos templos da Igreja Universal no país e romper definitivamente com o grupo do antigo chefe Edir Macedo.
O movimento desses religiosos começou em novembro de 2019, com a divulgação de um manifesto com críticas à direção da Universal.
Os religiosos acusaram os brasileiros por supostos crimes como evasão de divisas, expatriação ilícita de capital, racismo e discriminação. Eles afirmam ter o controle atualmente de 220 dos cerca de 300 templos da igreja. A Universal diz que seriam apenas 30.
A direção brasileira da Universal contestou a ata da assembleia divulgada no diário oficial angolano. Em nota distribuída em Angola, considerou falso o documento e disse que dissidentes “convocaram ilicitamente e de forma fraudulenta uma pretensa assembleia geral extraordinária”.
A cúpula da igreja prometeu adotar “todas as medidas necessárias para reagir à publicação ilícita da ata em causa” no diário oficial, “na convicção de que as autoridades administrativas e judiciais da República de Angola não deixarão de fazer respeitar a lei e a Constituição, bem como os estatutos da igreja”, condenando “a atuação ilícita daqueles que se intitulam agora de ‘Comissão de Reforma’ da IURD”.
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