Governador Valadares, cidade mineira a centenas de quilômetros do litoral e de aeroportos internacionais, consolidou-se como a principal “exportadora” de imigrantes do Brasil. Com ruas repletas de agências de viagens especializadas em envio de pessoas ao exterior e lojas exibindo bandeiras dos EUA, o município de 257 mil habitantes construiu, ao longo de décadas, uma economia movida pelo sonho americano — alimentando também uma rede ilegal de coiotes que lucram com o contrabando de migrantes.
Agora, porém, o fluxo que sustentou a região está sob ameaça. Com as políticas anti-imigração do presidente Donald Trump e o aumento das deportações, muitos valadarenses estão reconsiderando a jornada.
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“Tudo está parado, ninguém quer tentar”, relata Gilmar Mesquita, 43, deportado em fevereiro após uma frustrada tentativa de chegar aos EUA por mar. “Até os coiotes estão fugindo.”
De “Valadólares” à reintegração
A cidade, apelidada de “Valadólares” devido ao dinheiro enviado por imigrantes, tenta receber os deportados com programas de apoio. Anúncios espalhados pelas ruas dizem: “Seu retorno é o início de uma nova história”. A prefeitura oferece assistência psicológica, ajuda na regularização documental e acesso a empregos, embora não divulgue números sobre a adesão.
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O prefeito Sandro Fonseca reconhece a dívida histórica com os pioneiros da migração — estima-se que 60 mil valadarenses vivam nos EUA, muitos sem documentos. “Temos que agradecer a esses pioneiros”, afirma. Apesar disso, pesquisadores questionam o impacto real das remessas: enquanto a prefeitura fala em US$ 2 milhões diários, especialistas acreditam que o valor seja menor.
Crise nas rotas ilegais
A queda na migração reflete-se também no combate ao tráfico humano. Em fevereiro, a Polícia Federal prendeu 14 pessoas e bloqueou R$7,5 milhões de quadrilha que enviou quase 700 brasileiros aos EUA, via México . O serviço, que custa em média US$ 20 mil por pessoa, enfrenta desconfiança crescente. “Imagina pagar tudo isso para ser deportado?”, questiona Ryan Alves, 19, que desistiu do plano de emigrar.
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Para os que retornam, o desafio é reconstruir a vida. Sandra Souza, 36, foi deportada sem aviso após quatro anos na Flórida, onde buscava tratamento para o filho autista. “Me senti enganada”, diz, enquanto reforma sua casa em Itambacuri, cidade próxima a Valadares, com as economias trazidas dos EUA.
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O futuro incerto
Com voos de deportação chegando ao Brasil e o governo americano endurecendo as regras, Valadares vive uma ironia: enquanto parte da população ainda apoia Trump, outros veem o sonho americano se esvair. “A nova política de lá é assustadora”, resume João Victor Alves, 26, deportado após tentar cruzar a fronteira pelo México.
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Enquanto isso, a cidade tenta se adaptar — seja recebendo os que voltam, seja buscando alternativas para uma economia que, por décadas, dependeu do dólar que vinha de longe.
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