Publicações virais nas redes sociais espalham uma informação falsa: a de que Luna van Brussel Barroso, filha do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), moraria nos Estados Unidos e estaria prestes a ser deportada. A alegação, sem qualquer fundamento, ganhou força após o anúncio feito pelo secretário de Estado do governo Donald Trump, Marco Rubio, na sexta-feira (18), sobre a revogação imediata dos vistos do ministro Alexandre de Moraes, seus aliados no STF e familiares diretos.
Segundo apurado pelo Brazilian Press , no entanto, Luna Barroso não reside atualmente nos Estados Unidos e não enfrenta qualquer processo de deportação ou medida migratória . As postagens enganosas aproveitam-se da decisão de Washington para disseminar desinformação com teor político, associando indevidamente a jovem advogada a uma suposta expulsão do território norte-americano.

Os dados oficiais indicam que Luna cursou uma pós-graduação na renomada Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut, entre 2022 e 2023. Após concluir os estudos, retornou ao Brasil, onde hoje atua como doutoranda em Direito Constitucional na Universidade de São Paulo (USP). Além disso, exerce atividades jurídicas no escritório Barroso Fontelles, Barcellos, Mendonça Advogados — fundado por ex-sócios do próprio ministro Barroso —, com atuação na unidade do Rio de Janeiro, conforme consta no site institucional da banca.

A confusão surgiu a partir do comunicado divulgado por Rubio no X (antigo Twitter), no qual ele justificou a revogação dos vistos alegando perseguição política conduzida por Alexandre de Moraes contra figuras alinhadas a Jair Bolsonaro. “(O presidente Trump) deixou claro que seu governo responsabilizará cidadãos estrangeiros que forem responsáveis por censurar a liberdade de expressão protegida nos Estados Unidos”, escreveu Rubio, citando a chamada “caça às bruxas” no Brasil.
Apesar de mencionar “familiares diretos”, Rubio não detalhou quais pessoas específicas estão incluídas na medida. O jornal Estadão , no entanto, identificou que, além de Moraes, os ministros Luís Roberto Barroso, Flávio Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Edson Fachin — além do procurador-geral da República, Paulo Gonet — teriam seus vistos cancelados. Já André Mendonça, Luiz Fux e Nunes Marques não foram incluídos na lista.
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) celebrou a decisão em postagem no X, dizendo: “Muito obrigado presidente Donald Trump e secretário Marco Rubio. Eu não posso ver meu pai e agora tem autoridade brasileira que não poderá ver seus familiares nos EUA também”. A mensagem, embora não nomeie diretamente Luna Barroso, alimentou interpretações errôneas de que ela estaria entre os afetados.
O governo brasileiro, por meio do Palácio do Planalto, classificou a medida como “inaceitável” e uma “grave interferência na soberania nacional”. Em nota, afirmou que “nenhum país deve se intrometer no funcionamento independente do Poder Judiciário de outra nação democrática”.
Enquanto isso, especialistas em desinformação alertam para o uso estratégico de notícias falsas em períodos de tensão política. “É um padrão recorrente: anunciam-se medidas reais, mas as redes sociais rapidamente distorcem os fatos para criar narrativas emocionais e virais”, explica a pesquisadora em comunicação digital Ana Clara Marinho. “Neste caso, uma estudante e profissional séria virou alvo de boatos sem base alguma.”
Até o momento, nenhuma autoridade americana confirmou a aplicação prática da revogação dos vistos, tampouco há registros de impedimentos concretos à entrada dos citados no território dos EUA. Enquanto isso, Luna Barroso segue suas atividades acadêmicas e profissionais no Brasil, longe das especulações que tentam colocá-la no centro de uma crise internacional que ela sequer integra.













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