Paramjit Singh, cidadão indiano com Green Card há mais de três décadas, está encarcerado em uma cadeia do condado de Jefferson, no Kentucky, enquanto luta contra um tumor cerebral agressivo que já comprometeu parte de sua visão e seu estado geral de saúde. Segundo apurado pelo Brazilian Press, Singh, de 62 anos, foi detido pela Imigração dos EUA há quase dois meses, mesmo após um juiz de imigração ter reconhecido que não representa risco à sociedade e já havia cumprido todas as penalidades legais relacionadas a uma condenação antiga por furto — ocorrida há 25 anos.
Apesar da decisão judicial, o Departamento de Segurança Interna (DHS) recorreu ao chamado “automatic stay”, um mecanismo pouco usado até então, que permite manter a detenção e acelerar a deportação mesmo quando um juiz autoriza a liberdade. O recurso tem sido criticado por advogados como uma forma de burlar decisões judiciais e ampliar o poder executivo sobre processos de imigração.
Singh, que construiu uma rede de postos de gasolina em Indiana e criou família nos Estados Unidos, hoje mal consegue se comunicar com parentes. Sua sobrinha, Kirandeep Kaur, disse ao Brazilian Press que as últimas palavras do tio foram desesperadoras: “Ele falou: ‘Acho que vou desistir. Nunca vou sair daqui’.” Segundo ela, Singh perdeu mais de 20 quilos desde a detenção, dorme mal, tem crises de ansiedade e teme morrer dentro da cela. “É insuportável ouvir sua voz fraca, saber que ele precisa de ressonância magnética, cirurgia, acompanhamento neurológico, e nada disso está sendo feito”, lamentou.
O caso ganhou atenção de especialistas em direito migratório, que denunciam o uso abusivo do sistema de detenção para pressionar deportações, especialmente em casos envolvendo pessoas com doenças graves. “Esse é um exemplo claro de como o sistema pode ser cruel e burocraticamente ineficaz. Um homem com Green Card, empresário, pai de família, está sendo tratado como um criminoso de alto risco enquanto agoniza por falta de atendimento médico”, afirmou Laura Mendez, professora de Direito de Imigração na Universidade de Chicago.
Seu advogado, David Chen, revelou que o DHS passou a alegar uma suposta falsificação documental para justificar a continuidade da detenção — mas, segundo ele, “não existe nenhum registro dessa acusação em qualquer tribunal ou base oficial”. “É uma construção administrativa para manter Singh preso, sem provas, sem processo justo.”
Enquanto isso, o tumor progride. Médicos consultados pela defesa alertam que a demora no tratamento pode resultar em cegueira total, paralisia ou morte. Dentro da prisão, Singh recebe apenas analgésicos e cuidados básicos, longe das condições necessárias para um caso neurológico complexo.
A família continua mobilizando apoio jurídico e público, pedindo clemência humanitária e intervenção imediata das autoridades federais. Organizações de direitos civis já entraram com pedidos de habeas corpus e exigem uma avaliação independente do estado de saúde de Singh.
O caso de Paramjit Singh ilustra uma falha profunda no sistema de imigração norte-americano: a capacidade de agências governamentais ignorarem decisões judiciais e mantiverem imigrantes em detenção prolongada, muitas vezes com consequências fatais. Para ativistas, é urgente rever o uso de medidas como o “automatic stay” e garantir que a saúde e a dignidade humana prevaleçam sobre agendas políticas de deportação.
“Não estamos pedindo privilégios. Estamos pedindo que ele seja tratado como qualquer outro residente legal que enfrenta uma emergência médica”, disse Kaur. “Ele construiu tudo aqui. Agora, o país que ele ajudou a sustentar pode deixá-lo morrer atrás das grades.”
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