Para realizar o trajeto de quase 7 mil km dos Estados Unidos até o Brasil com a esposa em estado vegetativo, o brasileiro Ubiratan Rodrigues, de 41 anos, planeja utilizar um motorhome adaptado que ofereça segurança, conforto e estrutura médica básica durante os cerca de 50 dias por 11 países.
O objetivo é deixar Orlando e viajar até Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Conforme Ubiratan, a aquisição está prevista para o fim de outubro e ele já definiu o modelo ideal, que precisa atender a uma série de exigências técnicas e práticas para transportar Fabíola da Costa, de 32 anos, além dos três filhos do casal.
O motorhome escolhido é de porte médio para que seja aceito nos trâmites logísticos da travessia do Panamá, onde o veículo deverá ser transportado em um contêiner lacrado, uma medida planejada para ter segurança contra furtos. Veja no vídeo acima o veículo. O modelo tem estrutura semelhante a um pequeno apartamento sobre rodas e conta com: quarto com cama de casal, uma cama próximo ao volante que cabe duas pessoas; banheiro com chuveiro; cozinha completa, equipada com pia, fogão, geladeira e micro-ondas; armários para armazenamento de roupas, alimentos e equipamentos médicos; sistema de ar-condicionado com controle de temperatura; gerador de energia, que garante autonomia elétrica para os aparelhos médicos.
Em entrevista ao g1, Ubiratan revelou que o modelo do veículo tem um espaço que pode ser adaptável para uma segunda cama, onde será acomodada Fabíola. A montagem da estrutura ocorre diretamente sobre o piso, com fixação da cama hospitalar ao chão.
A prioridade de Ubiratan é garantir estabilidade, segurança e rotina de cuidados ao longo do percurso. A cama de Fabíola será fixada ao piso do motorhome, com o tronco levemente inclinado, de acordo com orientações médicas. O espaço também deve ser adaptado para acomodar os equipamentos médicos portáteis já utilizados por ela em casa. Entre os principais equipamentos que devem acompanhar a viagem estão os aparelhos de oxigênio e de pressão, oxímetro, nebulizador, aspirador de secreções (sucção), sensor de temperatura, além da cadeira de rodas e o kit completo de higiene e medicamentos que já utiliza em casa.
Atualmente, o quadro de Fabíola é estável, por isso ela não utiliza ventilador mecânico, mas o ambiente do motorhome será preparado para eventuais intercorrências. Um desfibrilador não está disponível no momento, mas está entre os itens que o esposo da brasileira ainda pretende adquirir. Além da infraestrutura, o cuidado contínuo é uma parte essencial da rotina. “Eu que cuido dela 24 horas por dia. Dou banho, alimento, troco a fralda, esvazio a bolsa de colostomia, faço os exercícios físicos e respiratórios. E isso vai continuar sendo feito no motorhome”. Durante a viagem, Ubiratan pretende dirigir apenas durante o dia, parando antes do anoitecer para ter um tempo dedicado exclusivamente à esposa e ao filhos. Isso também deve prolongar a jornada, originalmente estimada em um mês, para cerca de 50 dias, considerando pausas, rotas perto de hospitais, repouso e procedimentos de cuidado.
Tratamento já ultrapassou R$ 270 mil
A jornada sobre rodas surgiu como alternativa à UTI aérea, cujo custo ultrapassa R$ 1 milhão. Em setembro de 2024, Fabíola sofreu um mal súbito em casa, em Orlando, onde vivia com o marido e os três filhos. Ela teve três paradas cardíacas e uma perfuração pulmonar durante a reanimação. A falta de oxigenação no cérebro causou danos severos e, desde então, ela está em estado vegetativo, embora responda a estímulos e se movimente.
Ubiratan largou o trabalho de caminhoneiro para se dedicar integralmente à esposa. No último ano, a família já gastou mais de R$ 270 mil com tratamento e equipamentos. O plano de saúde cobre apenas itens básicos, como vitaminas e alguns insumos, e o restante é mantido com ajuda de doações. Sem recursos para continuar o tratamento nos EUA, o casal viu no motorhome a única chance de retornar ao Brasil, receber apoio do SUS e ficar mais perto da família em Juiz de Fora. “A única saída viável hoje é essa. Nossa esperança está em voltar para casa. Estamos esgotados emocional e financeiramente. Não dá mais para esperar”.
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