Quindim, torta de limão, chocolate, merengue e brigadeiro. Se você salivou só ao ler essas palavras, tem grandes chances de fazer parte de uma legião de aficionados por doces. É o caso da estudante de engenharia ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mayara Correa Lima, 24 anos, que não se contenta apenas com as guloseimas prontas: gosta mesmo de uma colher de açúcar puro.
Pode parecer incomum, mas casos com o de Mayara estão espalhados não só pelo Brasil, como pelo mundo. Nos últimos anos, pesquisas têm apontado este carboidrato cristalizado comestível como um grande vilão da alimentação. O efeito de dependência que o açúcar provoca seria semelhante ao de outras drogas, como tabaco, álcool e cocaína. Até a forma de extração da natureza é parecida: o princípio ativo de uma planta é transformado em um pó fino e branco que vicia e dá energia.
Por não conter nenhum nutriente, o açúcar é rapidamente digerido pelo organismo e transformado em glicose, que libera energia para as células trabalharem. Se consumido em excesso, gera, portanto, uma quantidade desnecessária de combustível. É quando um sistema de regulagem entra em ação: o pâncreas produz insulina para regular a taxa de glicose no sangue. E a liberação deste hormônio além do necessário gera aumento de peso.
As explicações para o vício
O açúcar vicia porque interage no cérebro com neuropeptídeos, substâncias que levam a um sistema de dependência. O órgão central do sistema nervoso registra que este tipo de carboidrato é uma fonte rápida de energia e torna a requisitá-lo quando há falta de alimentos.
O excesso de açúcar branco é considerado um destruidor da flora intestinal boa e, além disso, diminui a barreira protetora intestinal, explica a nutricionista e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Gilberti Hübscher. Com isso, diminui a capacidade de gestão de quebra das moléculas dos alimentos, a capacidade de absorver os nutrientes e os mecanismos de imunidade do corpo.
— O consumo diário deveria ser zero. Não precisamos de açúcar branco porque ele não tem valor nutricional, apenas valor energético, que podemos encontrar em outros alimentos — afirma Gilberti.
Luta diária para fugir da compulsão
Os efeitos causados pelo consumo exagerado de açúcar são conhecidos de perto pela estudante Mayara Lima: o pai é obeso e a família tem histórico de diabetes. Por isso, desde os 14 anos se consulta com um endocrinologista para alterar os hábitos alimentares. A colher de açúcar foi trocada pelo mel, mas ela confessa que eventualmente escorrega na dieta.
Traços da dependência
> Se você tenta diminuir a dose de açúcar e sente sintomas de abstinência, como dor de cabeça, desconforto, falta de motivação, cansaço, alteração do sono, inapetência (falta de vontade de comer) e hiperfagia (vontade de comer demais), há fortes indícios de que você é dependente do açúcar.
> Outro traço é que outras pessoas, como familiares e amigos, reclamem do consumo abusivo das guloseimas, afirma a psiquiatra Carla Bicca, especialista em dependências químicas e terapeuta cognitiva.
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