A cineasta brasileira Bárbara Marques, de 34 anos, residente em Los Angeles desde 2018, está sob custódia do Immigration and Customs Enforcement (ICE), a polícia federal de imigração dos Estados Unidos, há duas semanas. Sua detenção ocorreu logo após uma audiência relacionada ao processo de obtenção de green card, segundo relatos do marido, o norte-americano Tucker May, que afirmou ter havido uma manobra para isolar a artista de seu advogado.
Segundo apurado pelo Brazilian Press, os agentes do ICE prenderam Marques em 16 de setembro, enquanto ela deixava um prédio governamental em Los Angeles onde participava de um compromisso oficial sobre sua situação migratória.
O casal afirma que, ao final da reunião, um funcionário alegou que uma impressora havia quebrado e pediu que ela acompanhasse um técnico até outro andar — momento em que ela se afastou de seu representante legal e foi abordada por agentes armados.
Em nota, o ICE confirmou a prisão e classificou Marques como “estrangeira em situação irregular”, alegando que ela ultrapassou o prazo de permanência autorizado pelos vistos com os quais entrou nos EUA: primeiro em 14 de março de 2018 e depois em 21 de novembro de 2019. “Não possui documentos válidos que a autorizem a residir legalmente no país”, informou a agência, acrescentando que um juiz de imigração já determinou sua deportação para o Brasil.
Apesar disso, a família contesta a versão oficial. Segundo nota enviada por Tucker May, a cineasta estava cumprindo todos os trâmites legais para regularizar sua situação e sequer foi notificada sobre uma audiência crucial no processo. “Bárbara apresentou todos os documentos exigidos e seguiu à risca as orientações das autoridades. Estamos perplexos com essa detenção abrupta e desproporcional”, afirmou May.
O advogado responsável pelo caso já teria protocolado um recurso judicial visando suspender a deportação e garantir o direito de defesa. “Aguardamos com confiança na Justiça americana uma decisão justa e humanitária”, completou a família em comunicado.
Atualmente, Marques está detida em um centro de imigração na Louisiana, o que familiares consideram um sinal de que sua repatriação pode ocorrer em breve. Antes disso, ela passou por instalações em Adelanto, na Califórnia, e posteriormente foi transferida para o Arizona. Segundo relatos do marido, houve momentos em que ela e outros detentos ficaram mais de 12 horas sem alimentação, o que levanta preocupações sobre as condições do sistema de detenção.
Quem é Bárbara Marques?
Nascida no Espírito Santo, Bárbara Marques se formou em cinema no Rio de Janeiro e, posteriormente, estudou atuação na AMDA, escola renomada em Los Angeles. Ao longo da carreira, dirigiu curtas-metragens aclamados em festivais, como Cartaxo (2020), documentário sobre a homenagem à atriz Marcélia Cartaxo no Los Angeles Brazilian Film Festival, e Basement (2021), um filme de terror com elenco majoritariamente norte-americano. Seu trabalho mais pessoal, Amor (2018), retrata o impacto do Alzheimer no avô materno.
O caso ganhou repercussão nas redes sociais, com colegas do meio cinematográfico e ativistas exigindo transparência e tratamento digno. Até o momento, o Itamaraty não se pronunciou oficialmente, embora tenha sido procurado pela reportagem. O ICE, por sua vez, reforçou em comunicado que “estrangeiros em situação irregular agora enfrentam uma possibilidade muito real e iminente de ser localizados, presos e deportados”, citando um “compromisso renovado com a lei e a ordem” sob a liderança do presidente Donald Trump e da secretária de Segurança Interna, Kristi Noem. Com a cineasta prestes a ser deportada, a comunidade artística brasileira nos EUA acompanha o caso com atenção, temendo que episódios como esse possam desencorajar talentos estrangeiros de contribuírem culturalmente ao país.
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