Importantíssimo este reconhecimento, neste momento em que o mundo inteiro sabe da intenção de Bolsonaro em relação aos povos indígenas e suas terras depois de seu discurso na ONU. Mas não foi só o líder indígena e xamã Davi Kopenawa que ganhou o Right Livelihood Award, prêmio da fundação que lhe dá nome, conhecido também como ‘Nobel Alternativo’.
Outras três ativistas – a adolescente Greta Thunberg que mobilizou 4 milhões de pessoas pelo clima, no mundo, na semana passada, a defensora dos direitos humanos Aminatou Haidar e a advogada chinesa Guo Jianmei – também foram escolhidas. Durante muitos anos, o júri do Right Livelihood Award foi criticado por indicar mais homens do que mulheres para receber a honraria. Este ano, foi impossível não favorecer o universo feminino e o talento e a força de seu ativismo independem de gênero.
Cada escolhido de 2019 vai receber 1 milhão de coroas suecas como reconhecimento pelo trabalho que estão realizando local ou globalmente, que geram impactos positivos importantes, e para apoiar seus próximos passos.
Em 4 de dezembro, em Estocolmo, na Suécia, Kopenawa dividirá a premiação com a Hutukara Associação Yanomami, cofundada e presidida por ele desde 2004 para divulgar sua cultura. A escolha se deve à sua “corajosa determinação em proteger as florestas e a biodiversidade da Amazônia, e as terras e a cultura de seus povos indígenas”.
“Davi Kopenawa, junto à Hutukara, tem resistido exitosamente à impiedosa exploração de terras indígenas na Amazônia, protegendo nossa herança planetária comum”, salientou Ole von Uexkull, diretor-executivo da Right Livelihood Foundation à reportagem da BBC.
Desde pequeno, Kopenawa conhece a realidade de seu povo e desde muito jovem se dedica a protegê-lo. Quando nasceu, por volta de 1955 (não sabe ao certo), os Yanomami já haviam passado por contatos intensos com os brancos – entre 1950 e 1960 – que levou muitos indígenas à morte por causa de doenças, inclusive seus pais.
Por sua trajetória ao mesmo tempo guerreira e de paz, recebeu o apelido de Dalai Lama da Floresta Tropical. Depois de quase dez anos de luta, em 1992, os Yanomami conquistaram o reconhecimento de seu território em Roraima com a demarcação, o que, infelizmente, nunca impediu as invasões.
Por tudo, em 1989, recebeu o prêmio ambiental Global 500 da ONU, pela defesa de seu povo. Só ele e Chico Mendes foram agraciados com essa premiação no Brasil.
O júri do Right Livelihood Award, composto por especialistas internacionais de áreas diversas levou em conta que o território defendido por Kopenawa é uma das reservas mais importantes de diversidade genética do planeta. A reserva tem sido pressionada pela exploração de recursos por meio de invasões e de muita violência, que já dizimaram 20% de sua população nas últimas duas décadas do século passado.
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