Roger Costa- Quando comentei que sua interpretação em “The Way He Looks” deverá chamar atenção da Academia, inclusive devido a um artigo publicado pelo New York Times, o jovem ator Ghilherme Lobo, de apenas 19 anos, agradeceu com humildade e emoção, revelando a enorme honra de ter seu trabalho reconhecido. Sua incrível interpretação de Leo, um garoto cego em conflito com seu amadurecimento, beira a perfeição. Após sucesso no Brasil e elogios pelos Festivais ao redor do mundo, o filme chega a New York nesta sexta-feira, como seleção oficial do Brasil para disputar uma vaga ao Oscar de Filme Estrangeiro. Mas não descarte a possibilidade de Ghilherme também apareçer na Lista de Melhor Ator.
*Quero parabênizá-lo por esse trabalho mágico, realista, honesto, perfeito! Como você construiu esse personagem com tanta intensidade e honestidade, principalmente o fato de Leo ser cego.
-Isso é muito bom, ser elogiado dessa forma. Obrigado. Eu vejo isso como uma colaboração imensa do meu diretor e colegas de cena. Grande parte do meu trabalho é o resultado dessa comunicação harmoniosa entre nós, a participação coletiva onde cada um sugeriu e aprimorou cada personagem. E também reconheço o meu esforço em ter estudado bastante, lendo o roteiro várias vezes, ter imaginado diversas situações, fora do meu ambiente, situações semelhantes ao que meu personagem passava. Foi um processo individual e coletivo.
*Ao observar essas situações semelhantes as de Leo, como preparou a técnica visual do garoto cego, em nunca vacilar no foco do olhar, dando um aspecto perfeito?
-Geralmente eu deixo isso pro Daniel Ribeiro (o diretor) responder pois não quero soar arrogante em dizer que a idéia do olhar me acompanhou desde que fui chamado para o teste. Isso durante a seleção do curta, que foi feito primeiro. Levei essa idéia aos produtores, no dia do teste, arriscando arruinar a minha oportunidade, mas eles concordaram e aprovaram o aspecto do olhar. A gente precisa arriscar, a gente precisa apresentar o que tem pra mostrar e esperar para ver o que colhe disso.
*Quais foram os seus primeiros passos artísticos?
Cresci no ambiente artístico, frequentando ensaios, produções, backstage. Tudo comecou com um impulso de minha irmã, que atuava no palco. Fiz um teste e aos 7 anos de idade, estreei na primeira montagem oficial de A Bela e a Fera da Brodway no Brasil. Depois fiz parte de outras produções de pequeno e grande porte como “Peter Pan”, “A Noviça Rebelde” e “Todos Podemos Voar”. Fiz ballet contemporâneo, ballet clássico, participei de festivais de ballet em New York, onde ganhei uma bolsa parcial para estudar, mas não pude agarrar aquela oportunidade, voltei ao Brasil e integrei numa companhia de dança alemã. Dai surgiu o curta, que realizamos em 2010, e fiz o longa-metragem em 2013.
*Como foi a recepção do filme pelos Festivais na Europa?
-Viajamos para Berlin, onde aconteceu a estréia mundial do filme, e foi fantástica a reação da platéia. Diziam que foi um acontecimento histórico e raro, onde todo o público aplaudiu o filme de pé, até o final dos créditos. Algo que eu nunca vou esquecer!
*E no Brasil?
-O filme conseguiu resultados formidáveis. Interessante é que começamos com um número pequeno de salas, mas de repente o filme se expandiu, e alcançamos o Top 5 por 4 semanas, lado a lado com mega produções de Hollywood, sendo o único filme que aumentou o número de salas, semana após semana.
*Qual a sua expectativa em relação ao lançamento do filme aqui nos Estados Unidos?
-Eu espero que o filme cumpra a função, que eu creio ser a mais importante, de conscientizar não só pela questão da homosexualidade, mas do amor e respeito com as outras pessoas. Minha expectativa não é ter só o apoio dos simpatizantes, quero que os conservadores vejam o filme, para que sintam o que o filme tem para oferecer com sua sutileza, para expandirem suas idéias a respeito, e tenham oportunidade de rfletir com uma ferramenta direta e ao mesmo tempo sútil.
*Próximos projetos?
-Participo da próxima novela do horário das 6 na Rede Globo, que estréia em Março de 2015. Recebi 3 convites pra longa-metragens mas só poderei aceitar 1 deles pois, estarei fazendo a novela durante o período de filmagens dos outros.
*O que aparecer será de grande benefício para você desenvolver o seu talento. Mas entre dança, teatro, TV e cinema? Qual a sua paixão maior?
-O teatro. A experiencia do momento presente no teatro é único! Amo fazer cinema e TV e quero continuar fazendo. Mas a expectativa em saber o que vai acontecer no palco, ao invés do que já está pronto, é uma sensação tão grandiosa que não tem comparação.
*Como você lida com o fato em saber que sua interpretação tem sido aclamada, onde até mesmo o NY Times, publicou um artigo domingo passado onde aponta você como um dos grandes destaques e revelações do ano, e destacando que deverá chamar a atenção dos especialistas durante a temporada de seleção dos melhores do ano, incluindo o Oscar?
-Fico muito feliz, eu não havia pensado nesta posisbilidade ao ler o artigo, mas vou ler com mais atenção. Fico extremamente honrado, estamos falando da maior festa do cinema internacional, super grato aos produtores por terem me dado a oportunidade, de fazer este, que é o maior trabalho em minha carreira.
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