Sandy Hook. Charleston. Roseburg. A medonha lista de chamada da violência com armas de fogo nos Estados Unidos não para de crescer.
Os Estados Unidos têm o mais alto índice mundial de armas de fogo per capita (o Iêmen vem em distante segundo lugar) e a maior incidência de mortes por armas de fogo no mundo desenvolvido.
No entanto, um misto tóxico de história, cultura, política e dinheiro impede o país de restringir significativamente a propriedade privada de armas de fogo e vai continuar a impedi-lo.
Os Estados Unidos não são o único país do mundo a incluir o direito à posse de armas em sua Constituição (os outros dois são o México e a Guatemala).
Mas a linguagem usada na Constituição americana é ilimitada e foi interpretada amplamente por uma Suprema Corte que é, ela própria, extraordinariamente poderosa.
Os fundadores dos Estados Unidos afirmaram o direito “ao porte de armas” como parte de sua crença iluminista de que a existência de múltiplas fontes de poder em uma nação impediria a tirania centralizada.
É por isso que a Segunda Emenda constitucional fala na preservação de milícias locais para contrabalançar a autoridade central.
Com o passar do tempo, porém, a Segunda Emenda acabou por ser vista como garantia de um direito constitucional pessoal. Seria difícil, senão impossível, reverter essa crença arraigada.
Grandes interesses comerciais
A NRA (organização que representa a indústria de armas de fogo). gosta de enxergar-se como guardiã da liberdade prevista na Constituição, mas ela também atua como associação comercial. Reduzida a suas dimensões econômicas essenciais, a meta da NRA é proteger os fabricantes de armas de fogo e aumentar as vendas de armas.
E os negócios estão indo de vento em popa outra vez. As armas de fogo são uma indústria que hoje movimenta US$10 bilhões por ano nos Estados Unidos.
Como não poderia deixar de ser, a NRA é o “fuzil de cano longo” da política americana. Com precisão e força letal, ela mira um tipo de alvo: qualquer pessoa ou grupo que se oponha à interpretação mais ampla possível dos direitos ao uso de armas nos Estados Unidos.
É uma estratégia bem adequada à política americana moderna, em que coalizões partidárias amplas têm menos importância que o trabalho de grupos de base amplamente financiados que atuam sobre questões precisas.
A influência exercida pela NRA no Congresso é legendária e praticamente não tem rival. É por isso que pouca ou nenhuma legislação nova é provável depois do massacre de Roseburg.
Ou depois da próxima tragédia.
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