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Detenção de imigrantes nos EUA não passa de uma indústria lucrativa

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Enquanto a opinião pública reagia à separação de milhares de crianças migrantes de seus pais após cruzarem a fronteira dos EUA, as organizações que gerenciam os centros de detenção migratória viam seus negócios expandirem.

Só em 2017, o ICE destinou quase US$ 3 bilhões para custear o sistema de detenção de estrangeiros, que abriga os migrantes cujos casos estão sob análise da Justiça ou cuja deportação foi decidida.

E a maior parte desses centros de detenção são administrados pela iniciativa privada, em uma amostra da multimilionária indústria que cresceu junto com o controle migratório.

Paradoxalmente, a recente decisão de Trump de pôr fim à separação das crianças de seus pais pode fazer com que o volume de negócios dessas empresas aumente, em vez de diminuir.

“Os centros de detenção de imigrantes são uma peça central do modelo de negócios das empresas como a CoreCivic e o GeoGroup, que se dedicam a administrar presídios privados”, diz Bianca Tylek, diretora do Projeto de Transparência de Centros de Detenção, sediado em New York.

Ela acrescenta que a CoreCivic reportou em 2017 que 25% de suas receitas vieram de contratos com o ICE, que totalizam US$ 444 milhões. No caso do Geo Group, os contratos com o ICE representam 19% de suas receitas, de US$ 429 milhões.

Tylek destaca que essas duas empresas são as líderes de um mercado que inclui mais uma dezena de empresas concorrentes no país.

Em janeiro de 2017, o Geo Group assinou um acordo com o ICE para gerenciar um centro de imigrantes com 780 leitos no Estado da Geórgia e, dois meses mais tarde, anunciou um novo contrato de dez anos, para um centro de detenção no Texas com capacidade para mil pessoas.

A principal lei usada por Trump para fazer as deportações é a mais ampla regulando a imigração nos Estados Unidos: o Ato de Imigração e Nacionalidade de 1952 – criado e aprovado naquele ano por um Congresso de maioria democrata.

Além dos centros de detenção, há também uma “complexa rede de negócios privados lucrando com a crise migratória”, segundo Tylek.

“No setor de transportes, por exemplo, estão as empresas que transportam os imigrantes desde a fronteira até os centros de detenção. Em alguns casos, as empresas de transporte são propriedade dos mesmos conglomerados donos dos centros de detenção. Isso ocorre com o Geo Group e o CoreCivic, por exemplo”, diz ela.

O fornecimento de alimentação e telefonia para os centros de detenção também produz contratos lucrativos.

No que diz respeito às crianças, as administradoras de centros infantis ficam encarregadas do alojamento e atendimento, enquanto a custódia fica a cargo do Departamento de Saúde e Serviços Sociais, que no último ano fiscal destinou US$ 958 milhões para a manutenção dos espaços de acolhida para menores migrantes.

Esses espaços são diferentes dos centros de detenção, já que têm de oferecer salas de aula, serviços de saúde física e mental, espaços de recreação e serviços de reunificação familiar.

Um dos focos das críticas foi a Southwest Key, ONG sediada no Texas que nos últimos anos se tornou uma das principais instituições de acolhida no país – tem hoje 26 centros, com capacidade para abrigar 5 mil crianças.

O caso mais famoso é o da Casa Padre, construído no espaço que antes abrigava um supermercado e que conta com 1,5 mil leitos.

Em 2018, a Southwest Key receberá US$ 458,6 milhões do HSS, elevando para US$ 1,5 bilhão o total de seus contratos com o governo federal na última década, segundo os registros do próprio HHS.

No entanto, documentos tornados públicos indicam que o fundador da ONG, Juan Sánchez, teria recebido em 2017 um salário anual de quase US$ 1,5 milhão – o que faria dele o quinto diretor de ONG mais bem pago dos EUA, segundo a organização CharityWatch.

A crise migratória deste ano também resultou em contratos emergenciais para o acolhimento de menores, caso, por exemplo, do firmado com a entidade Comprehensive Health Services para aumentar seu atendimento de 500 para mil crianças imigrantes no sul da Flórida.

Segundo a agência Bloomberg, a empresa receberá US$ 31 milhões pelos serviços adicionais. Colaboração de BBC News.


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