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Capoeira do Brasil é usada para tirar jovens da criminalidade nas Filipinas

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A ideia de usar a capoeira foi posta em prática há seis anos pelo psicólogo filipino Jaime Benedicto, 32. Apaixonado pela capoeira desde os 18, ele fala português fluente, que aprendeu sozinho. É nesse idioma também que seus alunos entoam as canções de capoeira, os chamados corridos.

Mais que palavras ou sermões, porém, a capoeira surte efeito pela própria prática. “O jogo ensina a ficar mais atento, ter consciência das consequências dos nossos atos. Se você colocar seu pé aqui sem pensar, seu parceiro vai te derrubar”, diz ele.

Na roda de capoeira, os garotos aprendem a planejar os golpes, saber o objetivo e como atingi-lo. Depois da aula prática tem a roda de conversa.

Outra lição indireta é que a força física não é tudo. “Temos jovens doentes ou deficientes, que se destacam na organização de eventos ou na habilidade para convidar outros jovens, algo muito importante também na sociedade.”

Outros mostram talento para o canto e os instrumentos. A ideia é mostrar que não é só quem joga melhor que tem mais valor. “Todos são importantes para o grupo.”

Disciplina é outro efeito importante. Segundo o psicólogo, comportamentos que seriam básicos para jovens de classe média precisam ser adquiridos. “Eles têm uma vida caótica, em locais sem estrutura, fora da escola e sem boas relações com os pais.”

A capoeira introduz ordem e tradições. “Há regras, uniforme. A gente explica por que é preciso atenção ao que os outros falam. Ensina a respeitar para receber respeito.”

Foi o caso de Teddy, que aos 13 anos, mora num dos bairros mais pobres de Manila, capital das Filipinas, e já é órfão. Fora da escola e marcado na comunidade por ser filho de traficante assassinado, ele reconquistou importância por dominar a percussão do berimbau e entoar as ladainhas mais longas.

No encontro promovido em Sydney, na Austrália, no final de 2018, se destacou ao ensinar as origens da capoeira de Angola e o significado das músicas.

Aos 23 anos, conheceu na Austrália o baiano Mestre Roxinho e seu Projeto Bantu, criado há 20 anos no Brasil. Jaime, que já tinha como meta trabalhar com movimentos sociais, se encantou pela proposta.

No início, eram dez crianças de San Andres, distrito que tem a segunda maior população de Manila. Hoje são 200 alunos dos 3 aos 20 anos, em cinco comunidades. São duas aulas por semana, de até 80 minutos, dependendo da faixa etária.

Um convênio firmado com o governo filipino deve dar novo impulso ao grupo. Para isso, começou a formar instrutores entre seus alunos.

Meninas também participam das rodas, mas a maioria é do sexo masculino. Dados da OMS mostram que a taxa de homicídios de homens no país é oito vezes a de mulheres: 20,5 por 100 mil habitantes, no primeiro caso, contra 2,5 por 100 mil, no segundo.

O sonho de Jaime é construir um centro próprio, com aulas gratuitas também de reforço escolar, alfabetização e apoio na descoberta de outros interesses.


Agenda Cultural 17/1/19, by Roger Costa

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