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Idosos japoneses cometem crimes propositais para serem presos

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Os crimes cometidos por idosos vem aumentando de forma constante há 20 anos no Japão e o motivo é a pobreza, para terem moradia e alimentação gratuitas, não importando o local onde vivam. Ainda têm a vantagem adicional de continuar a receber as aposentadorias

Em uma sociedade notavelmente respeitadora da lei, um número cada vez maior de crimes é cometido por pessoas com mais de 65 anos. Em 1997, cerca de uma em cada vinte condenações foram de indivíduos nesta faixa etária. Vinte anos depois, no entanto, essa fração subiu para mais de uma em cada cinco, superando o crescimento desta parcela da população, embora os idosos correspondam atualmente a mais de um quarto dos habitantes do país e muitos casos são de reincidentes.

Mesmo as pessoas na faixa dos 80 anos que não conseguem andar direito estão cometendo crimes. É porque não têm dinheiro para comprar comida. O furto, principalmente em lojas, é esmagadoramente o principal crime cometido por idosos infratores. Eles costumam roubar alimentos baratos de algum mercado que frequentem regularmente. O australiano Michael Newman, demógrafo do centro de pesquisa Custom Products, em Tóquio, destaca que é muito difícil viver com a “ínfima” aposentadoria básica concedida pelo governo no Japão.

Em artigo publicado em 2016, ele calcula que os custos de aluguel, alimentação e assistência médica já são suficientes para deixar os beneficiários endividados se não tiverem outra fonte de renda, sem levar em conta os gastos com eletricidade ou roupas, por exemplo. No passado, era comum que os filhos cuidassem dos pais, mas a falta de oportunidades econômicas nas províncias levou muitos jovens a se mudarem, deixando os pais à mercê da própria sorte. A reincidência na infração é uma forma de “voltar para a prisão”, onde há três refeições por dia e nenhuma conta a pagar, acrescenta.

Newman ressalta que o suicídio também está se tornando mais comum entre os idosos – outra forma de cumprir com o que eles podem considerar como “seu dever de se retirar”. O diretor do centro de reabilitação With Hiroshima, Toshio Takata, também acha que as mudanças nas famílias japonesas contribuíram para a onda de criminalidade entre os idosos, mas ele enfatiza as consequências psicológicas, em vez das financeiras. “Em última análise, o relacionamento entre as pessoas mudou. As pessoas se isolaram mais. Eles não se encaixam nesta sociedade. Não conseguem aguentar a solidão”, diz Kanichi Yamada, de 85 anos, que era criança quando foi retirado dos escombros após o lançamento da bomba atômica em Hiroshima.

“Entre os idosos que cometem crimes, muitos enfrentam este momento na meia idade. Há alguns gatilhos. Eles perderam a esposa ou os filhos e simplesmente não conseguem lidar com isso. Geralmente as pessoas não cometem crimes se têm alguém que cuide delas e dê apoio.” Michael Newman observa que o governo japonês ampliou a capacidade carcerária e recrutou mais guardas prisionais do sexo feminino, pois o número de idosas condenadas está aumentando particularmente rápido. Ele também notou o aumento vertiginoso na fatura dos tratamentos médicos para presos. Michael Newman argumenta que seria muito melhor – e bem mais barato – cuidar dos idosos sem os custos dos processos judiciais e do encarceramento.


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