O S&P 500, índice que acompanha as ações de grandes empresas negociadas nas bolsas dos Estados Unidos, subiu 301 pontos, ou 12%. Foi o seu melhor desempenho em 46 anos. Na mesma semana, o número de americanos mortos pela covid-19 cresceu 11.499, ou 161%. Foi o melhor desempenho do coronavírus em todos os tempos.
Assim, parece um bom momento para reavaliar a crença de que o bom desempenho do mercado de ações reflete um cenário positivo para a humanidade.
Vamos analisar mais alguns eventos que aconteceram nesta semana, quando Donald Trump, que de alguma forma é o presidente dos Estados Unidos, publicou um animado tweet.
Enquanto isso, o número de mortos por covid-19 naquele dia passou de 2 mil pela primeira vez. Agora, de acordo com um gerontologista de San Diego, é a principal causa de morte no país, superando as campeãs tradicionais, doenças cardíacas e câncer.
Também na semana passada, mais de 6 milhões de americanos entraram com pedido de seguro-desemprego. O economista-chefe da RSM, uma das maiores empresas de contabilidade dos EUA, disse que isso mostra como “a carnificina no mercado de trabalho americano continua inabalável”. O total acumulado de recém-desempregados é de 16,8 milhões de pessoas, ou cerca de um em cada 10 trabalhadores.
Com americanos perdendo seus empregos e preocupados com a fome, nosso sistema econômico incentivou agricultores a destruir propositalmente sua produção. Pelo menos 60 mil galões de leite foram despejados em depósitos de esterco. Vacas leiteiras foram enviadas para o abate. Ovos de galinha fertilizados foram esmagados ao invés de serem chocados para criação.
Um relatório enviado à Casa Branca na terça-feira pela Academia Nacional de Ciências colocou em dúvida a esperança de que o novo coronavírus diminua sua ação naturalmente durante a primavera e o verão.
Em meio a tudo isso, Trump parece acreditar que a covid-19 é uma doença causada por bactérias, e não por vírus. A diferença entre bactérias e vírus geralmente é ensinada por volta da quinta série, quando as crianças têm 10 anos de idade.
A combinação dessas más notícias com o belo desempenho dos índices de ações torna difícil não pensar que o mercado se aproveita ativamente do sofrimento humano.
O que realmente faria o mercado de ações disparar, podemos supor, seria uma guerra nuclear seguida imediatamente por um gigantesco asteroide atingindo Manhattan.
O mercado de ações é indiferente à felicidade humana. O que importa é a estimativa do lucro futuro das empresas, após os impostos for compatível com pessoas vivas tendo o suficiente para comer, tudo bem.
Olhando por esse viés, o comportamento recente do mercado de ações é compreensível. Como explica Dean Baker, economista sênior do Centro de Pesquisa Econômica e Política em Washington: “A alta recente significa que os investidores estão apostando que o Congresso e Trump lhes deram muito dinheiro”.
Esse é o verdadeiro significado da estranha combinação de eventos desta semana. O que importa é que o governo Trump “pagará qualquer preço, suportará qualquer ônus, enfrentará todas as dificuldades” para manter as grandes corporações vivas e lucrativas.
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