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O lugar dos Estados Unidos na nova geografia política após a pandemia

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Os Estados Unidos já esperavam um período de incerteza política com seu volátil presidente concorrendo à reeleição. Ainda não está claro por quanto tempo a atual pandemia continuará, ou se serão necessárias medidas severas de distanciamento social em resposta a uma nova onda da doença no outono. Mesmo antes da covid-19, havia questões a respeito da imparcialidade das votações e sobre como o presidente Donald Trump poderia se comportar caso seu mandato estivesse ameaçado em novembro. Com o início da pandemia, o perigo de uma possível instabilidade resultante de seu comportamento parece muito maior.

“Se a pandemia continuar até novembro, os observadores da eleição vão se preocupar com o fato de que qualquer resultado será suspeito pelas circunstâncias nas quais a votação foi realizada”, explica Stephen Walt, professor de assuntos internacionais na Escola de Governo John F. Kennedy, da Universidade Harvard. “Se o resultado for apertado, ou se ambos os lados declararem vitória, poderá haver uma séria ruptura no processo eleitoral. E, pela primeira vez em nossa história, também temos um presidente em exercício que pode muito bem usar essa situação como desculpa para se manter no poder”.

Em todo o espectro político nos Estados Unidos, estão sendo discutidas respostas econômicas à crise que seriam consideradas fantasia há pouco tempo, incluindo a expansão das proteções do estado de bem-estar social e o investimento em infraestrutura nacional. Muitas dessas mudanças eram extremamente necessárias, mas, conforme a dimensão da crise torna-se mais clara, é possível enxergar esses investimentos como importantes à segurança nacional.

“A força de uma nação se concentra antes de tudo na sua força doméstica. Uma coisa que a crise oferece é a chance de se valer da política econômica militar, direcionando dinheiro do orçamento do Departamento de Defesa para a infraestrutura, e categorizando o gasto como defesa nacional”, explica Matthew Schmidt, professor de segurança nacional e ciência política da Universidade de New Haven. “Devemos ter como prioridade alcançar o resto do mundo em questões como nosso transporte público, nossa educação, e nosso sistema de saúde, pois todos estão mostrando sinais de estresse. Ainda é politicamente difícil fazer mudanças deste tipo, mas este momento é provavelmente a melhor chance das últimas décadas”.

Não é preciso dizer que a resposta inicial dos Estados Unidos ao coronavírus foi um fracasso. Apesar de meses para se preparar, a pandemia se espalhou pelo país antes que os testes e a infraestrutura adequada fossem implementados para gerenciar a crise. A má gestão, sem dúvida, contribuiu para o atual número de mortos, e provavelmente matará muitos mais. Mas a crise não acabou. Ainda há espaço para os governos federal e estaduais mostrarem competência e capacidade de gerenciar o problema de maneira eficaz.

O grau de sucesso alcançado pelas autoridades dos Estados Unidos nas próximas semanas e meses fará diferença para os cidadãos, mas também para os países do resto do mundo, que assistirão e compararão os resultados obtidos por grandes democracias, como as suas próprias, e por governos autoritários, como a China.


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