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Após briga no Couto Pereira, especialista critica “discurso bélico” entre organizadas

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De um lado, uma revolta singular.“Largaram o mano sozinho. Essa é a real, parça. Melhor não comentar porque é revoltante deixar um irmão na guerra, sozinho”. Do outro, a comemoração infame pela pancadaria. “Os caras em três ônibus, varremos os caras. Quebramos os ônibus dos caras”.

Os áudios que viralizaram após o enfrentamento nos arredores do Couto Pereira revelam a lógica peculiar das relações das torcidas organizadas e, mais ainda, das brigas do universo do futebol. Depois do episódio fora do estádio, torcedores do Corinthians lamentavam que os companheiros haviam deixado um “dos deles” para trás. Do lado do Coritiba, as falas eram de celebração porque, mesmo em menor número, o estrago foi maior para os rivais.

Para o sociólogo Maurício Murad, autor do livro “Para entender a violência no futebol”, as torcidas organizadas vão muito além dos episódios de violência e ficam estigmatizadas com esses casos.

– Esse discurso bélico é extremamente negativo. Em primeiro lugar, não representa as torcidas organizadas. Em segundo, representa um grupo de delinquentes criminosos infiltrados. Em terceiro, eles acabam queimando a ideia da torcida organizada perante à opinião pública. Aí as autoridades vêm com esse discurso de que tem que acabar com as torcidas ou então torcida única.

Depois do confronto, a Império Alviverde, organizada do Coritiba, divulgou uma nota em que se isentava da culpa e afirmava que os corintianos foram em busca de confusão na sede da torcida. A nota ainda reforçava o caráter de guerra: “Jamais fugiremos da luta”. A polícia, posteriormente, endossou a tese de que os torcedores do Corinthians foram atrás do enfrentamento.

Mas nem sempre aqueles que se envolvem em brigas no futebol têm histórico criminoso. O efeito apaixonado que se espalha nas multidões é uma das justificativas que Murad dá para tantos apoiadores das confusões.

– É um pouco o efeito de laranja podre em cesto de boa laranja. Esses grupos minoritários acabam influenciando uma parcela um pouco maior, que acaba entrando nessa onda deles, e aí também participa dos conflitos e das lutas. A multidão apaixonada é propensa ao exagero, aos excessos.

Impunidade como regra

As autoridades apontaram sete envolvidos nas agressões do Couto Pereira. Um deles foi preso ainda no estádio e vai responder por tentativa de homicídio. Na segunda-feira, outro se apresentou à polícia, foi indiciado pelo mesmo crime e foi liberado. Outros três ainda não foram encontrados e dois seguem sem identificação.

De acordo com Murad, a impunidade é fator comum em relação aos crimes cometidos no futebol. O problema, contudo, se estende para as demais esferas da sociedade brasileira, o que explica a falta de pena para os criminosos.

– Nos últimos três anos, somente 3% de todos os crimes ocorridos no universo do futebol, como formação de quadrilha e bando, depredação do patrimônio público e privado, agressões, mutilações, mortes e racismo, foram punidos até as últimas consequências. É preciso reduzir a impunidade, que, infelizmente, no nosso país é um traço da vida coletiva.


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